segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Perguntas de criança... (Rubem Alves)



Há muita sabedoria pedagógica nos ditos populares. Como naquele que diz: “É fácil levar a égua até o meio do ribeirão. O difícil é convencer ela a beber a água...” De fato: se a égua não estiver com sede ela não beberá água por mais que o seu dono a surre... Mas, se estiver com sede, ela, por vontade própria, tomará a iniciativa de ir até o ribeirão. Aplicado à educação: “É fácil obrigar o aluno a ir à escola. O difícil é convencê-lo a aprender aquilo que ele não quer aprender...”
Às vezes eu penso que o que as escolas fazem com as crianças é tentar força-las a beber a água que elas não querem beber. Brunno Bettelheim, um dos maiores educadores do século passado, dizia que na escola os professores tentaram ensinar-lhe coisas que eles queriam ensinar mas que ele não queria aprender. Não aprendeu e, ainda por cima, ficou com raiva. Que as crianças querem aprender, disso não tenho a menor dúvida. Vocês devem ser lembrar do que escrevi, corrigindo a afirmação com que Aristóteles começa a sua “Metafísica”: “Todos os homens, enquanto crianças, têm, por natureza, desejo de conhecer...”
Mas, o que é que as crianças querem aprender? Pois, faz uns dias, recebi de uma professora, Edith Chacon Theodoro, uma carta digna de uma educadora e, anexada a ela, uma lista de perguntas que seus alunos haviam feito, espontaneamente. “Por que o mundo gira em torno dele e do sol? Por que a vida é justa com poucos e tão injusta com muitos? Por que o céu é azul? Quem foi que inventou o Português? Como foi que os homens e as mulheres chegaram a descobrir as letras e as sílabas? Como a explosão do Big Bang foi originada? Será que existe inferno? Como pode ter alguém que não goste de planta? Quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha? Um cego sabe o que é uma cor? Se na Arca de Noé havia muitos animais selvagens, por que um não comeu o outro? Para onde vou depois de morrer? Por que eu adoro música e instrumentos musicais se ninguém na minha família toca nada? Por que sou nervoso? Por que há vento? Por que as pessoas boas morrem mais cedo? Por que a chuva cai em gotas e não tudo de uma vez?”
José Pacheco é um educador português. Ele é o diretor ( embora não aceite ser chamado de diretor, por razões que um dia vou explicar...) da Escola da Ponte, localizada na pequena cidade de Vila das Aves, ao norte de Portugal. É uma das escolas mais inteligentes que já visitei. Ela é inteligente porque leva muito mais a sério as perguntas que as crianças fazem do que as respostas que os programas querem fazê-las aprender. Pois ele me contou que, em tempos idos, quando ainda trabalhava numa outra escola, provocou os alunos a que escrevessem numa folha de papel as perguntas que provocavam a sua curiosidade e ficavam rolando dentro das suas cabeças, sem resposta. O resultado foi parecido com o que transcrevi acima. Entusiasmado com a inteligência das crianças – pois é nas perguntas que a inteligência se revela – resolveu fazer experiência parecida com os professores. Pediu-lhes que colocassem numa folha da papel as perguntas que gostariam de fazer. O resultado foi surpreendente: os professores só fizeram perguntas relativas aos conteúdos dos seus programas. Os professores de geografia fizeram perguntas sobre acidentes geográficos, os professores de português fizeram perguntas sobre gramática, os professores de história fizeram perguntas sobre fatos históricos, os professores de matemática propuseram problemas de matemática a serem resolvidos, e assim por diante.
O filósofo Ludwig Wittgenstein afirmou: “os limites da minha linguagem denotam os limites do meu mundo”. Minha versão popular: “as perguntas que fazemos revelam o ribeirão onde quero beber...” Leia de novo e vagarosamente as perguntas feitas pelos alunos. Você verá que elas revelam uma sede imensa de conhecimento! Os mundos das crianças são imensos! Sua sede não se mata bebendo a água de um mesmo ribeirão! Querem águas de rios, de lagos, de lagoas, de fontes, de minas, de chuva, de poças dágua... Já as perguntas dos professores revelam ( Perdão pela palavra que vou usar! É só uma metáfora, para fazer ligação com o ditado popular! ) éguas que perderam a curiosidade, felizes com as águas do ribeirão conhecido... Ribeirões diferentes as assustam, por medo de se afogarem... Perguntas falsas: os professores sabiam as respostas... Assim, elas nada revelavam do espanto que se tem quando se olha para o mundo com atenção. Eram apenas a repetição da mesma trilha batida que leva ao mesmo ribeirão...
Eu sempre me preocupei muito com aquilo que as escolas fazem com as crianças. Agora estou me preocupando com aquilo que as escolas fazem com os professores. Os professores que fizeram as perguntas já foram crianças; quando crianças, suas perguntas eram outras, seu mundo era outro...Foi a instituição “escola” que lhes ensinou a maneira certa de beber água: cada um no seu ribeirão... Mas as instituições são criações humanas. Podem ser mudadas. E, se forem mudadas, os professores aprenderão o prazer de beber de águas de outros ribeirões e voltarão a fazer as perguntas que faziam quando eram crianças.

Fonte: http://www.rubemalves.com.br/  
(vale a pena visitar a casa de Rubem Alves)

Le Petit Nicolas- doce experiência

Norman Rockwell (1894-1978)

sábado, 27 de novembro de 2010

música-poesia


Regra Três  

Composição: Vinicius de Moraes / Toquinho

 
Tantas você fez que ela cansou
Porque você, rapaz
Abusou da regra três
Onde menos vale mais
Da primeira vez ela chorou
Mas resolveu ficar
É que os momentos felizes
Tinham deixado raízes no seu penar
Depois perdeu a esperança
Porque o perdão também cansa de perdoar
Tem sempre o dia em que a casa cai
Pois vai curtir seu deserto, vai.
Mas deixe a lâmpada acesa
Se algum dia a tristeza quiser entrar
E uma bebida por perto
Porque você pode estar certo que vai chorar

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Fica a dica...

Mostra Cinema e Direitos Humanos é destaque na programação da Capital

Filme "Abutres", do diretor argentino Pablo Trapero marca a abertura do ciclo no Santander

Mostra Cinema e Direitos Humanos é destaque na programação da Capital<br /><b>Crédito: </b> Paris Filmes/ Divulgação/ CP
Mostra Cinema e Direitos Humanos é destaque na programação da Capital
Crédito: Paris Filmes/ Divulgação/ CP
O cinema está em destaque na programação da Capital desta terça-feira até domingo, 28, com a 5ª Mostra Cinema e Direitos Humanos na América Latina, realizada no Santander Cultural (rua Sete de Setembro, 1028). O filme "Abutres", do diretor argentino Pablo Trapero e estrelado por Ricardo Darín, marca a abertura do ciclo no Santander, com exibição nesta terça, às 19h. A trama se passa na Argentina e conta a história dos caranchos, advogados que procuram as vítimas de trânsito para tirar a maior indenização possível das seguradoras e ficar com uma gorda comissão.

A programação terá um total de 41 filmes e entrada franca. Ela inclui a "Retrospectiva Histórica Direito à Memória e Verdade", com alguns títulos clássicos da cinematografia sul-americana, e a "Mostra Contemporânea", que reúne diversos filmes premiados internacionalmente e inéditos no país. O homenageado desta edição é o ator Ricardo Darín, um dos mais populares atores do cinema e da televisão argentinos.

A iniciativa é dedicada às obras que abordam questões referentes aos direitos humanos, produzidas recentemente nos países sul-americanos. Os filmes abordam o direito à terra, ao trabalho, à inclusão social, à diversidade étnica e religiosa, à solidariedade intergeracional da cidadania LGBT. Também são abordados o direito à memória e à verdade, direitos dos povos indígenas, das pessoas com deficiência, da pessoa idosa, da criança e adolescente, da população carcerária, dos afrodescendentes e dos refugiados.

Entre os títulos que poderão ser conferidos, em sessões às 10h, 15h, 17h e 19h, estão "Kamchatka", "A Batalha do Chile II - O Golpe de Estado", "A Verdade Soterrada", "Avós", "Dias de Greve", "Meu Companheiro", "A Casa dos Mortos", "Carnaval dos Deuses", "Mãos de Outubro" e outros.

Outra programação que começa nesta terça-feira comemora os 25 anos do Instituto Cultural Marc Chagall de Porto Alegre, com uma exposição que resgata a memória dos judeus. O evento ocorre no Memorial do RS (Sete de Setembro, 1020), das 10h às 18h. Haverá exibição de filmes e documentários. A partir das 15h, será exibido o curta-metragem "Mazel Tov - 1990", com direção de Flávia Seligman e Jaime Lerner. Também haverá a palestra "Holocausto, por que devemos estudá-lo", com o professor Ilton Gitz, além de show musical com o Coral Zemer.
Fonte: http://www.correiodopovo.com.br/ArteAgenda/?Noticia=225719

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Clarice

"Enquanto eu tiver perguntas e não houver respostas, continuarei a escrever." 
"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..."

"Eu acho que, quando não escrevo, estou morta."

Fragmentos- Escrita II

Escrever é expor, expor-se, pôr-se em cena. Não há como fingir que se sabe o que ainda não aprendeu, não há como enganar seu leitor primeiro: Você mesmo. Quando escrevemos, de alguma forma estamos materializando nossos pensamentos, nossos devaneios, nossas idéias que nos pareciam tão perfeitas. E que agora são frágeis e contingentes. Estamos no limite...
Escrevo contra a morte, contra a as ideias que fogem e escapam. Escrevo contra o tempo, que vem e esmigalha tudo. O que escrevo hoje, amanhã não é!

Um dia "posto" o resto...

Para lembrar... Infância minha

Agora só falta você

Rita Lee

Composição: Rita Lee / Luís Sérgio Carlini
Um belo dia resolvi mudar
E fazer tudo o que eu queria fazer
Me libertei daquela vida vulgar
Que eu levava estando junto a você
E em tudo que eu faço
Existe um porquê
Eu sei que eu nasci
Sei que eu nasci pra saber
E fui andando sem pensar em voltar
E sem ligar pro que me aconteceu
Um belo dia vou lhe telefonar
Pra lhe dizer que aquele sonho cresceu
No ar que eu respiro, uu
Eu sinto prazer
De ser quem eu sou
De estar onde estou
Agora só falta você, iê, iê
Agora só falta você, aaa...
Agora só falta você, iê, iê
Agora só falta você, au!