domingo, 27 de março de 2011

L'Enfance

"A infância é um outro: aquilo que, sempre além de qualquer tentativa de captura, inquieta a segurança de nossos saberes, questiona o poder de nossas práticas e abre um vazio em que se abisma o edifício bem construído de nossas instituições de acolhimento. Pensar da infância como um outro é, justamente, pensar essa inquietação, esse questionamento e esse vazio ...

...Quando uma criança nasce, um outro aparece entre nós. E é um outro porque é sempre algo diferente da materialização de um projeto, da satisfação de uma necessidade, do cumprimento de um desejo, do complemento de uma carência ou do reaparecimento de uma perda. É um outro enquanto outro, não a partir daquilo que nós colocamos nela. É um outro porque sempre é outra coisa diferente do que podemos antecipar, porque sempre está além do que sabemos, ou do que queremos ou do que esperamos. Desse ponto de vista, uma criança é algo absolutamente novo que dissolve a solidez do nosso mundo e que suspende a certeza que nós temos de nós próprios."


Larrosa, Jorge – Pedagogia Profana, Autêntica Editora, Belo Horizonte, 2006

2 comentários:

  1. Quantas reflexões para um domingo!
    Garanto que estava chovendo aí! hahaha

    Beijos com mta saudade!

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  2. o melhor disso tudo é que é na diferença que nos constituímos, mas não no que se refere a um padrão, a um modelo, a um original....
    a diferença deve ser vista como diferença na relação dela com ela mesma...
    só assim conseguimos nos desprender do modelo representacional clássico, do fundacionismo ou ainda da metafísica!!!!

    viva a filosofia da diferença....

    bjo bjo bjo....

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